Olele caros amigosJ,
Espero
que esteja tudo bem por esses lados. Daqui a 1 dia regresso a Portugal para estar
perto de vocês novamente. Estou ansioso por esse regresso, pois por muito que a
tecnologia ajude a atenuar as saudades que temos das pessoas de quem gostamos
não há nada como estar pessoalmente com elas e poder sentir os afetos e
partilhar as gargalhadas de uma boa história ou situação.
Assim
sendo, irei resumir alguns aspetos que considero importantes nesta curta
passagem por Angola. Foi uma passagem bastante curta, mas que deu sem dúvida
para conhecer parte da realidade Angolana. Diria que uma guerra atrasa muito um
País, mas este teve mais que uma e, consequentemente, foi muito afetado por
elas. As pessoas desta nova geração sabem e têm noção que foi inútil tanto
sangue derramado, hoje apenas são elas a pagar por isso, porque determinadas
pessoas não foram…
Mas
falemos de coisas engraçadas, pode ser? Uma delas aconteceu ontem: recebi um
sorriso bem grande de uma criança. Mas para poder contextualizar o que se
passou cá vai…quando, num destes Domingos de folga, estava a regressar da praia
com o pessoal parámos junto à estrada e uma pequenota encontrava-se junto da
sua mãe. Era mesmo fofa a miúda, e eu como nunca saía da residência sem o meu
típico lanche (quem convive diariamente comigo sabe disso, o Homem dos PitéusJ), levava na mochila umas bolachas e
dei à miúda que ficou maravilhada por receber umas simples bolachas Maria. Parece que viu um chocolate à sua
frente, ficou mesmo contente, puxa! quem dera que tivesse mais coisas naquele
momento para poder oferecer, pois é tão bom ver a felicidade dos pequenotes
aqui. Eles com pouco, mas mesmo pouco fazem a “festa”. Mas adiante, após essa
oferta e passado alguns dias encontrei novamente a pequenota que estava com a
sua mãe e irmãos junto à praia e ouvi-a comentar com a mãe toda contente “olha
olha mãe, aquele senhor foi o que me ofereceu as bolachasJ”. Fiquei contente porque ela deu-me
um enorme sorriso por causa de umas simples bolachas Maria. Vou ser sincero o que custa mais aqui é mesmo ver os
pequenotes com aquela carinha de esfomeados e a brincar no lixo público, que se
encontra em qualquer lado. Claro que isto se torna uma cadeia de transmissão de
doenças, ou são os miúdos a brincar no lixo ou são os animais, porcos neste
caso a comer do lixo. É certo que depois vão matar os porcos todos infetados
com diversas patologias graves para o ser humano, mas o espírito de
sobrevivência fala mais alto e a vida pode ser cruel por vezes. Ora podemos
imaginar que um jovem destes ou um adulto está a lavrar no campo tranquilo e
uma espécie venenosa de uma cobra morde a pessoa e esta tenha a infelicidade de
ser injetado com veneno e passado alguns minutos morre. Tudo se torna mais
difícil nesta terra, o pensamento Angolano é viver dia-a-dia, é esse o
pensamento deles, o que interessa é ter de comer para este dia e amanhã logo se
vê, não dá para fazer planos a médio ou longo prazo.
Outra
curiosidade aqui são os funerais, ou como eles chamam aqui os “óbitos”. É dia
de festa para essa família, reúnem-se durante 1 a 2 dias no máximo na casa do
falecido e recheiam a casa com bastante comida e bebida. É dia de comemorar,
música alta e toda a gente dança, a família e os amigos passam junto da pessoa
para deixar uma reza de despedida e deixam algo para os familiares do falecido,
comida ou dinheiro e partilham esses dias de sofrimento com a família.
É
certo que alguns rituais que realizam nesta aldeia e noutras partes de Angola
tiveram influência das pessoas mais velhas que na altura da guerra
refugiavam-se no país vizinho na República Democrática do Congo e quando
regressaram ao seu país de origem trouxeram esses costumes que se enraizaram
nas suas famílias e gerações.
Bem
vou dar por terminado esta aventura por Angola, foi um prazer enorme poder
partilhar convosco alguns momentos interessantes e espero voltar a contar novas
aventurasJ.
Cumprimentos João Silva, N´Zeto,
Angola 11 de Março de 2013.