segunda-feira, 11 de março de 2013

Adeus Angola...



Olele caros amigosJ,

            Espero que esteja tudo bem por esses lados. Daqui a 1 dia regresso a Portugal para estar perto de vocês novamente. Estou ansioso por esse regresso, pois por muito que a tecnologia ajude a atenuar as saudades que temos das pessoas de quem gostamos não há nada como estar pessoalmente com elas e poder sentir os afetos e partilhar as gargalhadas de uma boa história ou situação.
            Assim sendo, irei resumir alguns aspetos que considero importantes nesta curta passagem por Angola. Foi uma passagem bastante curta, mas que deu sem dúvida para conhecer parte da realidade Angolana. Diria que uma guerra atrasa muito um País, mas este teve mais que uma e, consequentemente, foi muito afetado por elas. As pessoas desta nova geração sabem e têm noção que foi inútil tanto sangue derramado, hoje apenas são elas a pagar por isso, porque determinadas pessoas não foram…
            Mas falemos de coisas engraçadas, pode ser? Uma delas aconteceu ontem: recebi um sorriso bem grande de uma criança. Mas para poder contextualizar o que se passou cá vai…quando, num destes Domingos de folga, estava a regressar da praia com o pessoal parámos junto à estrada e uma pequenota encontrava-se junto da sua mãe. Era mesmo fofa a miúda, e eu como nunca saía da residência sem o meu típico lanche (quem convive diariamente comigo sabe disso, o Homem dos PitéusJ), levava na mochila umas bolachas e dei à miúda que ficou maravilhada por receber umas simples bolachas Maria. Parece que viu um chocolate à sua frente, ficou mesmo contente, puxa! quem dera que tivesse mais coisas naquele momento para poder oferecer, pois é tão bom ver a felicidade dos pequenotes aqui. Eles com pouco, mas mesmo pouco fazem a “festa”. Mas adiante, após essa oferta e passado alguns dias encontrei novamente a pequenota que estava com a sua mãe e irmãos junto à praia e ouvi-a comentar com a mãe toda contente “olha olha mãe, aquele senhor foi o que me ofereceu as bolachasJ”. Fiquei contente porque ela deu-me um enorme sorriso por causa de umas simples bolachas Maria. Vou ser sincero o que custa mais aqui é mesmo ver os pequenotes com aquela carinha de esfomeados e a brincar no lixo público, que se encontra em qualquer lado. Claro que isto se torna uma cadeia de transmissão de doenças, ou são os miúdos a brincar no lixo ou são os animais, porcos neste caso a comer do lixo. É certo que depois vão matar os porcos todos infetados com diversas patologias graves para o ser humano, mas o espírito de sobrevivência fala mais alto e a vida pode ser cruel por vezes. Ora podemos imaginar que um jovem destes ou um adulto está a lavrar no campo tranquilo e uma espécie venenosa de uma cobra morde a pessoa e esta tenha a infelicidade de ser injetado com veneno e passado alguns minutos morre. Tudo se torna mais difícil nesta terra, o pensamento Angolano é viver dia-a-dia, é esse o pensamento deles, o que interessa é ter de comer para este dia e amanhã logo se vê, não dá para fazer planos a médio ou longo prazo.
            Outra curiosidade aqui são os funerais, ou como eles chamam aqui os “óbitos”. É dia de festa para essa família, reúnem-se durante 1 a 2 dias no máximo na casa do falecido e recheiam a casa com bastante comida e bebida. É dia de comemorar, música alta e toda a gente dança, a família e os amigos passam junto da pessoa para deixar uma reza de despedida e deixam algo para os familiares do falecido, comida ou dinheiro e partilham esses dias de sofrimento com a família.
            É certo que alguns rituais que realizam nesta aldeia e noutras partes de Angola tiveram influência das pessoas mais velhas que na altura da guerra refugiavam-se no país vizinho na República Democrática do Congo e quando regressaram ao seu país de origem trouxeram esses costumes que se enraizaram nas suas famílias e gerações.
            Bem vou dar por terminado esta aventura por Angola, foi um prazer enorme poder partilhar convosco alguns momentos interessantes e espero voltar a contar novas aventurasJ.

Cumprimentos João Silva, N´Zeto, Angola 11 de Março de 2013.     















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